Adentrando um pouco mais fundo no assunto dos primeiros hinos, teogonias e cosmogonias, não esqueçamos de ilustrar melhor o período histórico no qual essa poesia surge. Tratava-se de uma Grécia primitiva, sabemos, mas não desocupada; marcada pelo estabelecimento dos povos Pelasgos.
Os Pelasgos modificaram a história de criaturas sem rumo, ou de rumo muito incerto, já por volta de 1800 a.C. estabelecidos no território da Grécia. Traziam consigo uma condição especial, algo mais próximo do que chamaríamos civilização que se tem nesse período. A respeito deles, fica até hoje a questão sobre a sua língua, elemento sem o qual uma civilização não se estabelece em espaço algum, se realmente se parecia mais com o que se tornou o Latim ou se foi justamente esta que temos por Grego Antigo, ainda que primitiva.
São conhecidos muitos de seus feitos, pois dominaram a Grécia e a Ásia Menor; assim, foram os que instituíram os primeiros conjuntos de crenças, ensinaram aos outros homens que já ocupavam o Peloponeso, a Ática, a Trácia, dentre outras regiões, costumes, artes e ofícios, e por isso, dizemos então que estes cantores ganharam o papel de sacerdotes, músicos e legisladores.
É referente a esse período que tomamos conhecimento sobre personagens mais familiares como o rei Inaco, assim como titãs, deuses, semideuses e criaturas fantásticas, os ciclopes, mas que, analisados os fatos, ganham uma explicação racional da sua existência e marcam a história da Grécia como homens importantes, no entanto, sem as qualidades divinas que se vêem neles como personagens mitológicos.
Orfeu e Prometeu teriam vindo daí; de um, tem-se à memória como flautista persuasivo, encantador das criaturas, outro como a divindade que ensinou os homens a viverem civilizadamente, marcando uma evidência forte do que se atribui aos Pelasgos.
Orfeu, o poeta mais destacado desse período, como dito no texto passado, tem a fama de ser o cantor da primeira expedição grega cantada num poema, que ilustra de alguma forma o caminho desses Pelasgos, em Os Argonautas, cujo tema é a busca, iniciada por Jasão, pelo Velocino de Ouro, um carneiro de ouro com asas que ajudou os irmãos Frixo e Hele a fugirem de sua madrasta num tempo ainda mais remoto, o qual ficou perdido numa floresta por anos. Jasão recentemente tornara-se adulto e queria assumir o trono que fora do seu pai, Pélias, que o havia perdido para o próprio irmão, Éson, que deixaria o reinado somente se resgatasse o Velocino.
A viagem é uma aventura fantástica, demarcada por muitos acontecimentos extraordinários, desafiadores e dificultosos, envolvendo uma grande tripulação com heróis e personagens mitológicos, o que representaria sobretudo um caminho da alma em direção à liberdade e a sua deificação, que se concretiza poeticamente no resgate do próprio Velocino; e, Dentre os tripulantes da navegação, está Orfeu, quem canta o poema.
Hoje, a respeito dos outros poemas atribuídos a Orfeu, como seus hinos de iniciação, temos traduções e textos originais em grego antigo. Não há muito sobre este período, mas diríamos que fazem-nos conhecer algo do que seria esta antiga liturgia, assim como uma peça importante dos antecedentes dos Oráculos.