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Os Persas de Ésquilo

Afastada dos ciclos tebano, de Héracles, miceniano e troiano do teatro grego, Os Persas, uma obra genial, assim como outras do gênero, a única peça restante de uma trilogia, é escrita por uma testemunha ocular das guerras entre gregos e persas, composta pelo mais significante dos dramaturgos que conservamos até hoje, Ésquilo, que teria largado suas composições para lutar como soldado em três batalhas.

A peça, que fica entre Fineu e Glauco, na trilogia, refere-se à Batalha Naval de Salamina, na qual os persas foram repelidos. Mas, ao contrário do que se pode imaginar, a descrição dos tiros, dos estouros, das lanças, dos combates, talvez não seja o mais significativo. Pois Ésquilo sempre usou de sua experiência para dar realidade e vivacidade em suas composições, mas aqui ele se usa da experiência para comunicar muito mais ao espectador.

O que ele nos traz de tão interessante? Lembremos que, a exemplo de Sete Contra Tebas, o tema era instigante: a família versus o estado, inserido no ciclo tebano, com a luta sangrenta entre Etéocles e Polinice. Agora versa sobre algo muito atual para aqueles gregos, pois o protagonista é o próprio rei Xerxes, recentemente morto, alguns anos antes da apresentação de Os Persas, depois de ter desistido dos ataques aos gregos. Os personagens, além de Xerxes são Atossa, sua mãe, viúva de Dario, um Mensageiro e a Sombra do próprio pai, Dario. O que o tema nos traz de tão interessante é justamente imaginar-se como o grande rei persa.

Esta é a tentativa de Ésquilo, descrever o que possivelmente tivesse passado com o poderoso Xerxes naquele momento em que ele mesmo, como soldado, juntamente com os outros gregos, derrotava o exército persa. O tema então nos leva a imaginar as reações soberbas de um rei poderoso, mas com um exército escravo derrotado por homens livres, suas angústias, sua situação humana que lhe maltratou profundamente o ego e reduziu a sua existência à miséria de um derrotado.

Ésquilo também não deixa de mostrar, com tudo isso, que, assim como ele, cada um ao seu modo, compartilha da mesma contingência humana.

Até aqui, fica resumidamente o motivo pelo qual devemos, ao menos, tomar consciência da existência de Os Persas; portanto, tenhamos este teatro por aula, pois as tragédias gregas, as quais temos poucas conservadas, são didáticas, o dramaturgo nos ensina a imaginar mais e melhor. Facilmente compreendemos isso com os diálogos no palácio do rei, ainda que os personagens persas reajam mais como gregos e ao olhar dos gregos.

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