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Um Rápido Exercício.

Não há estudo sério se não compreendemos que tipo de leitura estamos fazendo. Qual a diferença, por exemplo, de um texto poético e de um texto histórico?

Parece simples, mas vejamos o que diz Aristóteles sobre dois gêneros literários distintos?

Antes, tomemos dois textos apenas ilustrativos, traduzidos para o português, como dito antes, um histórico e outro poético: O início do Primeiro livro, Clio, de Heródoto, sobre o rapto de Io, e depois um trecho da Ilíada, de Homero.

Texto I:

“I — Os Persas mais esclarecidos atribuem aos Fenícios a causa dessas inimizades. Dizem eles que esse povo, tendo vindo do litoral da Eritréia para as costas do nosso país, empreendeu longas viagens marítimas, logo depois de haver-se estabelecido no país que ainda hoje habita, transportando mercadorias do Egito e da Assíria para várias regiões, inclusive para Argos. Esta cidade era, então, a mais importante de todas as do país conhecido atualmente pelo nome de Grécia. Acrescentam que alguns fenícios, ali desembarcando, puseram-se a vender mercadorias, e que cinco ou seis dias após sua chegada, quase concluída a venda, grande número de mulheres dirigiu-se à beira-mar. Entre elas estava a filha do rei. Esta princesa, filha de Inaco, chamava-se Io, nome por que era conhecida pelos Gregos. Quando as mulheres, postadas junto aos barcos, compravam objetos de sua preferência, os fenícios, incitando uns aos outros, atiraram-se sobre elas. A maior parte delas logrou fugir, mas Io foi capturada, juntamente com algumas de suas companheiras. Os fenícios conduziram-nas para bordo e fizeram-se à vela em direção ao Egito.”

Texto II:

“Logo que o Sol se acolheu, e baixou sobre a terra o crepúsculo, foram-se todos deitar junto à popa da célere nave. Logo que a Aurora de dedos de rosa, surgiu matutina, eis que de novo zarparam, rumando ao exército argivo. Vento ponteiro lhes deu Febo Apolo, frecheiro infalível. O mastro, então, levantaram, prendendo-lhe a cândida vela. Logo se enfuna no meio com o vento, e ao redor da querena da nau, que avança, ressoam ruidosas as ondas inquietas. Corre veloz sobre as ondas, fazendo o caminho do estilo. Quando, afinal, alcançaram o forte arraial dos Acaios, a nau veloz de cor negra no seco puseram, puxando-a muito para o alto, na areia, firmando-a com paus apropriados. Todos, então, se espalharam por entre os navios e as tendas. Junto da nave ligeira entretanto, se achava agastado o divo Aquiles, de célebres pés, de Peleu descendente, sem freqüentar a assembléia, onde os homens de glória se cobrem, nem tomar parte nas lutas. Ralado de fundo despeito, só pelos gritos de guerra e sangrentos combates ansiava.”

Agora uma breve distinção, por Aristóteles, em A Arte Poética (Poét.,IX):

“É claro, também, pelo que atrás ficou dito, que a obra do poeta não consiste em contar o que aconteceu, mas sim coisas quais podiam acontecer, possíveis no ponto de vista da verossimilhança ou da necessidade.
Não é em metrificar ou não que diferem o historiador e o poeta; a obra de Heródoto podia ser metrificada; não seria menos uma história com o metro do que sem ele; a diferença está em que um narra acontecimentos e o outro, fatos quais podiam acontecer. Por isso, a Poesia encerra mais filosofia e elevação do que a História; aquela enuncia verdades gerais; esta relata fatos particulares”.

Isso que se vê, é um erro recorrente, ler um tipo de texto como se fosse outro, ou apreciar um como se aprecia outro; por isso, se fazem tão importantes as distinções dos gêneros literários.

Aqui há um breve exemplo, com pequenos trechos, mas podemos tomar esta atividade de comparação, no intuito de distinguir essas espécies de textos, com inúmeras obras e, então, estaremos fazendo uma tarefa básica sem a qual a ciência não é possível.

Este post tem um comentário

  1. Marianne Ferreira Kirsch

    Sensacional

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