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Por que aprender latim pelo método natural?

Respondendo as perguntas de alguns alunos sobre o estudo de línguas e o método de ensino utilizado na Schola Classica, falaremos hoje sobre o método natural. Na verdade, a pergunta vem acompanhada de uma crítica e é necessário respondê-la. A questão é a seguinte: “Por que eu devo me dedicar a leitura de um texto que foi escrito agora, no século XX, e não ir direto nos originais clássicos e aprender latim diretamente nos originais?” Fazendo referência ao livro Lingua Latina per se Illustrata, que é o livro didático que utilizamos nas aulas, os alunos querem saber porque não é recomendável ir direto ao texto clássico ou algum outro como, por exemplo, a bíblia e por meio de sua leitura aprender tudo o que é necessário

A precisão do Lingua Latina Per Se Illustrata

A primeira consideração é esta: o livro Lingua Latina per se Illustrata é impecável. Nada do que será aprendido ali entra em contradição com o que há nos textos clássicos. É um latim puríssimo, com uma correção exemplar. Ele não contém nenhum erro, o que não acontece com outros livros escritos mais recentemente e que são muito utilizados. Mesmo alguns exemplos consagrados, como a obra de Napoleão Mendes de Almeida, não são muito precisos. O Lingua Latina per se Illustrata levou aproximadamente 20 anos para ser escrito, foi lido e corrigido por diversos professores de latim ao redor do mundo, com quem Hans Orberg mantinha correspondência. Muitos escreviam a Orberg, sugerindo correções em passagens, de maneira a adequá-las ao estilo dos escritores clássicos, como Cícero e Vírgilio. Foi um trabalho minucioso, com muitas correções e revisões. Por isso não há razão para se ter medo do livro Lingua Latina per se Illustrata.

O que costuma acontecer com os alunos é a sensação de estarem perdendo tempo por estarem lendo este livro e não um clássico. Mas é preciso relembrar que estamos estudando latim exatamente por não sabermos ler os textos originais. Para aprender, é preciso primeiro estudar. É possível aprender lendo um texto e traduzindo a partir de um dicionário palavra por palavra até adquirir vocabulário? Sim, é possível, mas é um método falível. Se não houver, por parte do aluno, uma disciplina rigorosa e um modo eficiente de memorização que permita absorver todo esse conhecimento, não haverá garantia de aprendizado.

Como funciona o Lingua Latina Per Se Illustrata?

Como se dá o aprendizado no livro Lingua Latina per se Illustrata? Ele é baseado em um vocabulário frequencial, ou seja, cada palavra irá aparecer o número necessário de vezes para que seja aprendida e memorizada. O livro possui uma média de 1400 a 1500 palavras que todos precisam saber para ler a maioria dos textos latinos. O latim tem 50.000 palavras, mas com 1500 já é possível ler grande parte de tudo que foi escrito.

O livro também contém toda a gramática. Tudo está exposto em um único volume: as declinações, as conjugações, os tempos verbais, as concordâncias verbo-nominais, etc. Nenhum livro original possui todo este conteúdo reunido. Se o aluno ler a bíblia inteira em latim, por exemplo, não encontrará todos estes elementos. A Vulgata, tradução latina da bíblia, é um texto bastante simples, e não contém tudo que é necessário para ler todos os autores, nem mesmo os autores cristãos. Se tomarmos Hugo de São Vitor ou os autores de Salamanca, estes utilizam um latim mais renascentista, que é muito mais complexo que o texto bíblico. Ou seja, mesmo lida integralmente, a Vulgata não será suficiente para o aprendizado da língua. O mesmo vale para poesia. Se o aluno ler somente poesia, também não encontrará nenhuma obra com todas as formas gramaticais, morfológicas e sintáticas reunidas em um único lugar. Outro livro será necessário. 

O que o método natural faz ao nos ensinar uma língua é justamente tomar o vocabulário necessário, toda a gramática e fundir em uma história com início, meio e fim, para que o ensino não se reduza à tradução de frases: Regina in silvam intrat – A rainha entra na floresta. Por quê? Por que ela entra na floresta? O aluno dificilmente se lembrará dessa frase amanhã. Mas em uma história ele se lembrará. E nessas histórias o número de vezes que essas palavras aparecem é decidido com muito cuidado. Uma palavra nunca vai aparecer uma vez somente no livro, ela aparecerá diversas vezes, o número necessário de vezes para que seja aprendida. Todo o vocabulário é pensado assim.

Durante o aprendizado, o aluno precisará provar que conhece o vocabulário. Para tal, a resolução dos exercícios é indispensável, somente a leitura do livro não basta. Só é possível passar para o próximo capítulo depois de feito os exercícios e os pensaque são exercícios que estão no próprio livro-texto. O método foi pensado dessa forma, quem segui-lo aprende, como já fizeram muitas pessoas falantes das mais diversas línguas. Fizeram e funcionou!

O livro tem a preocupação de apresentar não só as palavras necessárias como também as formas gramaticais e toda a sintaxe. O aluno, quando utiliza este método, é exposto o número de vezes necessário para que aprenda todas essas formas. Por exemplo, o ablativo absoluto, que será utilizaado várias vezes durante a história para que se aprenda e se fixe muito naturalmente, não pela repetição mas pela frequência.

Por que não Napoleão Mendes de Almeida?

Uma língua é uma língua. Existem métodos bons e ruins para ensinar línguas. Quanto mais o método se esquece de que o latim é uma língua, pior fica. A Gramática Latina de Napoleão Mendes de Almeida é um grande livro, mas, como o nome diz, serve para que aprendamos gramática e não língua.

Tomemos um exemplo. O caso genitivo do latim corresponde ao adjunto adnominal restritivo no português: filius Dei, filho de Deus. Se perguntássemos a Erasmo, um dos maiores prosadores do latim em épocas onde este já era uma língua morta, o que é um adjunto adnominal restritivo, ele não saberia responder. E um genitivo? Sim, isso sim. Mas isso ele aprendeu depois de entender bem a diferença entre filius Deus e filius Dei,  e NINGUÉM tentou ensinar tal diferença explicando o que era um genitivo e muito menos um adjunto adnominal restritivo. Essa é a diferença entre o ensino da língua e sua gramática. 

Conclusão

Fica aqui nosso elogio ao trabalho de Hans Orberg. Ele foi um grande professor que compôs e escreveu o que há de melhor nesse método, que é muito eficiente para todo aquele que de fato quer aprender latim e ler qualquer texto nessa língua. Então, quem não conhece ainda, procure o livro Lingua Latina per se Illustrata, Família Romana, de Hans Orberg, e veja como é possível, não sem esforço e dedicação – pois exige muito esforço  dedicação – ler em latim normalmente, como quem lê em qualquer outra língua que domine.

Este post tem 3 comentários

  1. Fernando Carlos Ribeiro

    Por favor desejo ardentemente aprender Latin, como faço, onde procuro……não há cursos…..

  2. Jesus Messias

    Excelente.

  3. Bruno Pires

    Fernando, acesse a nossa página e nos chame no chat que fica no canto inferior direito da tela. Aqui na Schola Classica nós temos curso completo de latim, grego e humanidades.

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