O que achas de aprender alguns elementos importantes da língua latina? Caso não conheças o material didático que utilizamos, o Familia Romana, é um meio de tirar um pouco da curiosidade.
Porém, esta pequena lição de hoje tem serventia a muitos outros estudos, não só a quem deseja aprender latim. Tomemos uma frase simples e sua tradução: “Discipuli non modo numeros, sed etiam litteras discunt.” [Os alunos aprendem não apenas os números, mas também as letras].
Alguém que apenas desejasse escrever esta frase em português, partiria de ‘os alunos’, pois imaginaria mais de um aluno, ou “os alunos da escola”, ou alunos quaisquer que fossem do contexto no qual sua composição se referisse!
Já sabemos que “os alunos”, antes mesmo de ser classificado como ‘sujeito’, é o que primeiro se deseja produzir na imaginação dos ouvintes ou leitores. Em nossa língua, também sabemos que poderíamos causar confusão caso invertêssemos a ordem da frase. Depois, sabendo que é necessário mencionar o que os alunos fazem, escreve ‘aprendem’ concordando o verbo, em número, com ‘alunos’.
Em “os números”, imaginando, por exemplo, todos os número naturais de um até cem, prontamente flexiona a palavra ‘número’ para ‘números’, no plural; também, na frase, o “não apenas”, para depois acrescentar um “mas também”, tendo em vista uma imagem a ser descrita desde o início desta frase, a imagem ou afirmação completa que deu origem a essa composição, que poderia ser expressa de outro modo como “os alunos aprendem os números e também as letras”.
Notar os passos que damos durante a formulação de uma frase nos ajuda no aprendizado de qualquer língua e de outros estudos mais complexos ou de abstrações; é sempre bom ter essa mínima consciência de como formamos uma frase, a partir de nossas ideias principais ou imaginação, e notar que não jogamos vocábulos aleatoriamente nem quando estamos despreocupados com a beleza ou organização da frase.
Em latim, quando formamos uma frase, pensamos nas mesmas coisas e nos mesmos elementos, mas, quando os usamos, não ordenamos do mesmo modo como em nossa língua, embora encontremos sempre muita semelhança: “Discipuli non modo numeros, sed etiam litteras discunt.”
Tomemos os elementos da frase em latim, um a um, expondo flexão de gênero, número e caso e, quando verbo, de número, tempo e pessoa:
discipuli – masculina, plural, caso nominativo
non – advérbio de negação
modo – advérbio de exclusão
numeros – masculina, pural, acusativo
sed – conjunção adversativa
etiam – conjunção aditiva
litteras – feminina, plural, acusativo
discunt – verbo, tempo presente, terceira pessoa do plural.
Agora notemos as semelhanças, pois essencialmente temos a diferença de ‘discipuli’ (alunos), no caso nominativo, para ‘numeros’ (números) e “litteras” (letras), que estão no caso acusativo.
Essa diferença não aparece, na língua portuguesa, com a mudança da desinência das palavras, mas se dá de inúmeras formas, com a ordem da frase, trazendo o sujeito para o início da frase, com o uso de preposições antes de palavras, a exemplo do que chamamos objeto direto e indireto.
Notando isso, vale a pena mencionar uma dica para que não exista confusão na leitura da frase: identificar sempre as palavras para as quais sejam conhecidas as flexões. Às vezes, identificando uma delas, somos capazes de compreender uma frase que estava confusa e completar a parte que não sabemos.
Depois notemos também que o verbo ‘discunt’ (aprendem) carrega em si informações importantes. Dele perguntamos “quem aprendem?” e “o que aprendem?”, portanto, quando respondemos as perguntas, a resposta deve estar no caso correto: “discipuli discunt” e “discunt litteras et numeros” e não “discipulos discunt” ou “discunt litterae et numeri”.
Identificamos então que pela flexão de número, mais facilmente identificamos o sujeito da frase. Já, ao responder a segunda pergunta, pelo caso das palavras ‘numeros’ e ‘litteras’ identificamos a regência do verbo, que é acusativo.
Conforme vamos conhecendo muitas frases, formamos um acervo de orações em nossa memória, que é de onde sempre extraímos informações essenciais. Mas para conseguirmos fazer isso, é necessário sabermos o que lembrar dessas frases.
A segunda dica, portanto, é que, quando não lembrarmos a regência de algum verbo, ou de alguma preposição como ‘ad’, ‘in’, ‘prae’, procuremos na memória alguma frase “perdida”, que tenhamos alguma firmeza da sua escrita.
Por isso, para leitura, estudo e composição de textos, é tão importante a memorização de poemas ou textos em prosa bem escritos, que são o nosso acervo particular para todos os momentos.
Ficamos por aqui com essa breve descrição destes elementos. Esperamos que, tomando consciência desse “funcionamento” da língua, todos possam avançar com mais facilidade nos estudos. Lembramos também que para a leitura, não necessariamente devemos parar e meditar sobre tudo que está no texto minuciosamente; no entanto, para o nosso estudo é fundamental que tentemos identificar as particularidades das palavras, como as suas flexões e função sintática, assim como explorar as possibilidades de uso que tenham.