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O que estamos fazendo aqui?

Tu já deves ter perguntado a ti mesmo por que insistimos tanto nas línguas antigas e no estudo dos clássicos. No máximo, alguns de nós, que passamos pelo período escolar no Brasil, ouviram falar em mitologia greco-romana na escola. E quanto a literatura? Talvez, menos ainda. Em quaisquer das disciplinas “exatas”, seguimos diretamente na memorização de seus teoremas, regras e, de vez em quando, em algumas práticas relacionadas a isso.

Em tratando-se de literatura, talvez, em boas escolas brasileiras, aos alunos tenham sido apresentados alguns romances portugueses e brasileiros como os de Eça de Queiroz e Machado de Assis, que normalmente sucedem leituras de autores regionais. No Rio Grande do Sul, por exemplo, lêem-se alguns romances de Érico Veríssimo; Em outros estados, seus autores regionais de maior importância. É claro que somos apresentados a escritores excelentes. Por um lado é bom, às vezes inacreditável quando examinamos a situação geral do nosso ensino. Porém, cuidando por outro ângulo, parece haver alguma carência e, ainda, um desinteresse geral nisso tudo. Pode não parecer, mas isto está ligado ao desconhecimento da cultura antiga.

Vemos, de forma geral, que tudo depende da demanda dos vestibulares. Isso quando não se trata de uma prova geral para um país inteiro. A verdade é que esta situação não pode nos levar a algo bom, porque nossas escolas querem nos enviar aos cursos universitários e não às coisas da realidade. Assim, transformam-nos em pontuações. Cada uma busca usar a pontuação de seus alunos em concursos como argumento de excelência. Parece, às vezes, que a busca de conhecimento real pouco importa. E, falemos a verdade, isso é assim a nós mesmos. Queremos que a utilidade desses conhecimentos nos dêem premiações e não a sabedoria que verdadeiramente nutra a vida de sentido.

Por isso, notamos um desafio enorme quando iniciamos o nosso trabalho em 2016. Sem qualquer esperança de ver uma demanda suficientemente boa, pois nossa proposta inicial foi levar a literatura clássica para a casa dos brasileiros. Sempre soubemos que aquela carência que parece haver – mencionada há pouco – pode ser suprida com algo estranho a todos nós. O fato é que, embora tenhamos nossos escritores, portugueses e brasileiros, não conhecemos os seus próprios mestres!

Depois, também queremos ser capazes de escrever como eles, sem ao menos saber pelo que passaram, sem saber que, quase sem exceções, consumiram boa parte do próprio tempo apenas na busca da sabedoria e, para isso, saciaram-se bebendo das águas da antiguidade clássica.

Aqui é interessante falarmos da infância e adolescência, o período em que tudo isso nos é apresentado. É fácil perceber que, já nesta fase da vida, queremos com força somente aquilo que nos é bem apresentado, no qual encontramos diversão e motivo real e forte para depositar o tempo. Já é difícil convencer os pequenos e o é mais ainda quando as lições, tarefas, justificativas, são completamente sem sentido e unidade umas com as outras.

Aí entra não só a necessidade de aprender a mitologia greco-latina, mas também cuidar que as imagens mais belas e cenas mais bem descritas das coisas da natureza, que deram luz à todas as ciências e a beleza das ficções que conhecemos, estão concentradas neste período clássico tão rico da nossa história.

Quando iniciamos nosso trabalho da Schola Classica, nossos primeiros alunos foram justamente alguns amigos que, conhecendo nossa proposta e o método que viria a ser empregado, mal podiam esperar as primeiras aulas. Creio que todos tinham alguma boa noção de cultura clássica. Inicialmente não pensamos num curso, pois apenas selecionamos alguns livros necessários para todos que desejavam um material para estudo e anotações. No Brasil, não se vê qualquer tipo de material parecido até hoje: livros com textos originais em grego antigo e a tradução em língua latina. O que facilita o estudo da língua grega e aprofunda o nosso conhecimento linguístico a cada leitura.

Também trouxemos um método o qual talvez ninguém tivesse trazido à “internet” até aquele ano: o método natural ou direto, de Ørberg, e o Athenaze, criado por vários professores da língua grega ática e koiné, dentre eles um dos discípulos mais importante de Ørberg, Luigi Miraglia.

Mas, além dos livros, pensamos em algo ainda maior, e criamos cursos completos para esses estudos. Já temos centenas de alunos que iniciaram suas leituras em latim e grego antigo, professores em atividade, em vários estados brasileiros, que levam este estudo a escolas de Ensino Fundamental e Médio. Alguns, até mesmo persistiram na divulgação deste mesmo trabalho, por conhecerem a sua importância.

Nosso interesse é de que todos que passarem por aqui adquiram não apenas um conhecimento básico de línguas antigas, saibam flexionar algumas palavras corretamente e possam aprender algumas lições de etimologia ou coisa parecida, mas adentrem esta cultura inteira, que é um conhecimento para ser digerido em uma vida inteira.