Fuit Andromeda pulcherrima virgo, filia Cassiopeae et Cephei, qui in Asia regnabat.
Andromeda foi uma virgem lindíssima, filha de Cassiopeia e Cefeu, que reinava na Ásia. Era uma jovem cuja beleza todos admiravam. Ao fazer dezesseis anos, viu-se no auge da sua formosura, foi quando aconteceram algumas transformações:
Mater Andromedae, cum interrogata esset quid de tam pulchra filia sentiret, sine mora respondit se certo scire ne Nereidas quidem tanta pulchritudine ornatas esse.
A mãe de Andrômeda, quando perguntada sobre o que pensava da filha que possuía tamanha beleza, imediatamente respondeu que, sem dúvida, nem mesmo as Nereidas foram ornadas de tanta beleza.
Tanta convicção não poderia soar bem aos deuses, muito menos às próprias divindades do mar. E ainda que as palavras de Cassiopeia pudessem nunca ter saído do seu reino, o vento soprou-as sem interferência de ruído algum aos ouvidos das ninfas. As palavras foram insuportáveis a tal ponto que a reclamação chegou a Netuno.
O deus enviou um monstro terrível, nunca antes visto, do meio do Oceano para a região daqueles homens, que a devastou, ao ponto de Cefeu recorrer a inúmeras preces a Netuno. Foram aceitas as preces; no entanto, a devastação apenas pararia quando o rei oferecesse Andrômeda em sacrifício ao senhor dos mares.
“Quod si feceris” inquit terrbili voce Neptunus, “ferum monstrum, quod ad vastantos agros hominesque vorandos misi, a tua regione abibit et iterum in mare, unde venit, redibit”.
“Se realmente fizeres isso” dizia com uma voz estridente e terrível o deus dos mares, “o monstro feroz, o qual enviei para devastar os teus campos e homens, terá saído da tua região e novamente voltará ao mar de onde vem”.
Aquele pai, já desgraçado, ainda tentava remediar a situação, mas nada era possível ou suficiente para Netuno. Sem opções, acorrentou a própria filha a uma pedra na praia do seu litoral para ser oferecida ao deus.
Forte vero Perseus in illius regionis ora errabat; qui, cum pulcherrimam illam virginem ad dura saxa vinctam conspexisset, primum deae cuiusdam signum eam esse credidit.
Talvez, no entanto, Perseu caminhasse pelo literal daquela região; o qual, tendo visto aquela virgem presa à rocha, primeiro pensou ser uma estátua de alguma deusa. Quando chegou perto, notou que se tratava de Andrômeda e imediatamente começou a interrogá-la. Depois de muito esforço em obter alguma resposta, Perseu soube de toda a história. Ali parado, ouviu um som pavoroso.
Ingens bestia, cum e medio mari emersisset, celerrime ad litus veniebat.
Aquela criatura gigante, tendo já saído do meio do mar, aproximava-se velozmente do litoral. Gritava a filha, enquanto choravam seus pais. Porém, a esperança estava nesse homem que ali viam ao lado de Andrômeda, por isso imploraram por sua ajuda, para que derrotasse o monstro, pois, em troca, lhe dariam a mão da filha em casamento. Perseu aceitou imediatamente, e iniciou a sua batalha contra o terrível ser. O herói lutava com tudo que possuía, tentava de tudo para cravar-lhe a espada, voava com suas sandálias aladas até os céus e descia como águia para acertar seus ataques. Mas o monstro resistia.
Tum Perseum iterum iterumque mordere conabatur, at ille, huc illuc velocissime volans, eius impetus facile vitabat.
Depois tentava de novo e de novo cravar os dentes em Perseu, mas ele, aqui e ali, que voava velozmente, conseguia escapar dos ataques. Perseu bravamente enfrentou o monstro, atacou-o por todo o lado, cravando-lhe a espada diversas vezes até que tombasse e, por fim, estivesse imerso nas águas.
Gaudent Andromedae parentes, laetantur cives, Perseumque victorem salutant: “Nisi tu auxilio nobis venisses” inquit Cepheus, “certe filia mea horrenda morte periisset. Ecce, eam uxorem accipe: dii vos tueantur!”.
Alegram-se os pais de Andromeda, alegram-se os cidadãos, Todos saúdam o vitorioso Perseu: “Se tu não tivesses vindo a nós em auxílio” disse Cefeu, “Certamente a minha filha morreria de uma terrível morte. Eis, aceita-a como esposa: que os deuses vos ajudem!”
Postea Andromedam, quae beatam se esse arbitrabatur cum tam fortis et pulchri viri uxor facta esset, secum duxit.
Depois consigo levou Andrômeda, que se via agraciada agora, como tornou-se esposa de um homem tão forte e tão belo.