Embora esta rápida lição não aborde todas as regras de utilização do grau comparativo no que diz respeito aos adjetivos, é de extrema importância para desfazer muitas confusões que surgem aos alunos no momento de aprender os adjetivos de segunda classe no capítulo XII.
Vamos ao que interessa. Há dois modos de fazer comparações, escrevendo as palavras no grau comparativo. Vejamos um exemplo de cada:
- Gladius equitis longior et gravior est quam peditis.
- Eques gladium longiorem et graviorem fert quam pedes.
Gladius: espada.
longior, longiorem: mais longo (a), nos casos nominativo e acusativo.
gravior, graviorem: mais pesado (a), nos casos nominativo e acusativo.
eques, -itis: cavaleiro, que luta a cavalo.
pedes: infante, aquele que luta a pé.
est: verbo ‘é’, ser; verbo de ligação (liga sujeito e predicado na oração).
fert: ‘porta’, verbo ‘portar’ ou ‘carregar’ (consigo).
quam: advérbio de comparação.
No primeiro exemplo, a comparação é mais simples. Nota-se facilmente que um ente é comparado com outro, e que assim poderíamos escrever outras frases na mesma estrutura. Na frase, a comparação está relacionada a “gladius”, como podemos ver no esquema:
Gladius (sujeito) equitis (adjunto adnominal) longior (adjetivo no grau comparativo) et gravior (adj. comp.) est (verbo) quam (adv.) peditis (adj. adnominal).
Nota que não foi necessário repetir “gladius”, mas apenas escrever o que diferencia o segundo ente a ser comparado: “peditis”, que é o adjunto adnominal restritivo (do infante). Que é justamente o atributo que diferencia as duas espadas.
No segundo exemplo, acontece algo um pouco diferente, que pode causar certa confusão principalmente aos falantes da língua portuguesa. Entendamos o que acontece:
Eques (sujeito) gladium (complemento) longiorem (adjetivo no grau comparativo) et (conjunção) graviorem (adj. comp.) fert (verbo transitivo) quam (advérbio de comparação) pedes (sujeito).
Este esquema revela a construção gramatical da sentença, porém, recomendo que tenhas maior atenção ao sujeito e ao verbo para que possas compreender o que será dito agora.
Dentre as possíveis confusões que podem ocorrer aqui, uma delas é pensar que a frase compara o peso e o tamanho da espada que é levada com o peso do próprio infante. Como se “a espada fosse mais pesada do que um soldado”. O que obviamente não é o sentido correto e estaria fora de contexto na frase.
Na língua portuguesa, por vezes dizemos algo como: “este homem leva uma espada maior do que a espada daquele outro”. Ou ainda se omite a segunda repetição do substantivo dizendo: “do que a – daquele outro”. Essa forma é muito encontrada em nossa fala coloquial, mas também poderíamos dizer: “Este soldado carrega uma espada mais pesada do que aquele soldado”.
Se observamos estes exemplos, de fato, é um caso para dubiedade, mas em latim não se dá o mesmo, porque o advérbio de comparação não funciona apenas com verbo ‘esse’ (est/sunt) e, portanto, está ligado ao verbo “fert” no segundo exemplo. Entendemos ainda melhor sem as comparações:
“Eques gladium… fert quam pedes.”
Como se escrevêssemos: Eques gladium fortiorem (…) fert quam pedes gladium fert. Podemos imaginar, apenas para compreender o que acontece, que “quam” poderia ser substituído por “assim como”, mas pode ser usado para comparações de superioridade e inferioridade.
O cavaleiro usa uma espada ASSIM COMO o infante.
Agora com o comparativo, conforme o exemplo ‘b’.
O cavaleiro usa uma espada mais pesada DO QUE o infante.
Tudo isso serve apenas para que entendamos o uso do grau comparativo com o advérbio “quam”. Também para entender que, em latim, não importa se temos um verbo de ligação ou um verbo transitivo, a comparação se dará do mesmo modo, como se comparasse duas orações completas.
O assunto não é tão simples quanto parece, mas tudo deve se esclarecer melhor no momento em que tomarmos os exemplos do livro didático para estudar e praticar o uso dos adjetivos nos diferentes graus. Por ora, encerramos aqui. Em outro momento, falaremos mais sobre o uso dos adjetivos de primeira e segunda classe no grau comparativo.